segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O repórter já não mora cá...

Mas deixou cá um testemunho...

Lê-me:

O meu processo de Bolonha

Não estou nada feliz com o processo de Bolonha. Nada mesmo. Há dias, procurando trabalho numa instituição, disseram-me que tinha sorte, pois tinha uma licenciatura de 5 anos, logo tinha preferência em relação aos colegas com a nova licenciatura de Bolonha. Não estranhei tal facto. Tirei um curso de 5 anos, onde foi incluído um estágio de 9 meses numa instituição real, de pessoas e necessidades reais. Não tinha ordenado, mas o trabalho era bem a sério.
Hoje tirava o mesmo curso em 3 anos. Sem muitas das cadeiras e, principalmente, sem o estágio. Assim acontece com a maioria dos actuais cursos superiores. E, se desejam os adicionais 2 anos de curso que lhes dará direito ao grau de mestre, os alunos e suas famílias verão o valor das propinas quadruplicarem, ou pior, conforme o curso. O resultado é óbvio. Só famílias de classe média alta podem suportar tal esforço, para um ou dois filhos, e não sem sua dose de sacrifício. Abaixo destes, todos os outros desistem, ou endividam-se em créditos bancários, o que até é bastante frequente no nosso país. Considerando a actual empregabilidade da maior parte dos licenciados (pode encontrá-los em boa parte das caixas de supermercado, ou como empregados de mesa na pizzaria do seu centro comercial), a escolha para a restante classe média torna-se a cada dia mais fácil. Trabalhar sem uma formação específica, em seja o que for. Mas existem alternativas, é verdade.
E consideremos a formação dos nossos futuros mestres. Dois anos para completarem várias cadeiras e um seminário, uma gigantesca investigação científica, tantas vezes sem o necessário apoio do professor\orientador, que têm tantos outros projectos, mestrandos e responsabilidades. Um trabalho que, em alguns casos, alcança as mil páginas, quase metade delas com estudos estatísticos. No final, os avaliadores só irão dar uma olhadela geral, habituados que estão a estas lides, e se focarão na defesa de trabalho, uma prova oral. E, na generalidade dos casos, nenhum cidadão do país real alguma vez lucrará com tal odisseia mestral, excepto as lojas de fotocópias, e os departamentos das universidades que ficam com uma infinita fonte de folhas de rascunho. E o actual Governo, é claro, que melhor ocultará o seu desinvestimento nas universidades com as mega-propinas associadas à obtenção do grau de mestre. Não estou nada feliz com o processo de Bolonha.

bombaliberdade.blogspot

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